O declínio da produção de cacau
Janet Gyamfi, uma agricultora de 52 anos, olha para o que restou da sua quinta no oeste do Gana, onde menos de uma dúzia de cacaueiros sobrevivem entre poças de água contaminada por cianeto, resíduo da mineração ilegal de ouro. Em menos de um ano, a paisagem outrora verdejante e repleta de quase 6.000 cacaueiros foi devastada. “Esta quinta era o meu único meio de sobrevivência,” disse Gyamfi à Reuters, com lágrimas nos olhos.
Segundo especialistas, uma tempestade perfeita atinge o setor: mineração ilegal de ouro em expansão, mudanças climáticas, gestão deficiente do setor e a rápida disseminação da doença conhecida como swollen shoot. A Cocobod, conselho de comercialização do cacau do Gana, estima que 590.000 hectares de plantações estejam infetados com o vírus.
A produção está em declínio a longo prazo, com o Gana a caminho da menor colheita em 20 anos e a Costa do Marfim da menor em oito anos. Este cenário pode abrir portas para produtores emergentes, especialmente na América Latina.
Os consumidores nos Estados Unidos já estão a sentir o impacto, com o chocolate nas prateleiras mais de 10% mais caro do que há um ano. Analistas preveem que as colheitas desastrosas na África Ocidental só afetarão os consumidores mais tarde este ano, tornando o chocolate um luxo.
Em Samreboi, comunidade no coração cacaueiro do oeste do Gana, a situação é visível. Há três anos, a área contava com cerca de 38.000 hectares de cacau plantado; hoje restam apenas 15.400. Gyamfi resistiu às exigências ameaçadoras dos mineiros ilegais até encontrar sua plantação cercada e guardada por homens armados. Em seis meses, os mineiros extraíram o ouro e abandonaram a terra, deixando-a contaminada e Gyamfi com um empréstimo que não pode pagar.
Doenças e alterações climáticas adicionam camadas ao problema. A Cocobod suspendeu a distribuição de fertilizantes e pesticidas há anos e está perdendo a batalha contra o swollen shoot. Além disso, padrões de chuvas estão mudando, com períodos mais intensos de chuvas fortes e secas mais longas e quentes.
Enquanto a África Ocidental luta, os preços globais altos incentivam os agricultores a plantarem mais cacau em outras regiões tropicais, como a América Latina. Especialistas preveem que o Equador ultrapassará o Gana como o segundo maior produtor mundial até 2027.
Contudo, os verdadeiros prejudicados são os pequenos produtores da Costa do Marfim e do Gana, que veem suas rendas evaporarem sem muitas opções disponíveis. “A situação para os agricultores na África Ocidental é desastrosa,” concluiu Antonie Fountain da VOICE Network.