Irlanda e a Representação Cultural na Indústria Cinematográfica
A indústria cinematográfica da Irlanda, conhecida por suas paisagens deslumbrantes e talento local, enfrenta um dilema de representação cultural. O filme “An Irish Wish”, apesar de ter como cenário a bela Irlanda e contar com a participação do ator Ed Speleers, não conseguiu inspirar muitos, inclusive aqueles que não são fãs de comédias românticas ou de Lindsay Lohan. Curiosamente, o filme alcançou o topo da lista da Netflix em Chipre, talvez impulsionado pelo nome de Alexander Vlahos, ator de ascendência galesa e grega.
Com uma vasta gama de escritores irlandeses aclamados internacionalmente, incluindo mulheres notáveis, questiona-se a escolha de Vlahos para interpretar um irlandês, quando o país é rico em atores locais talentosos. A representação de Vlahos como um autor fantasma auxiliado ao sucesso por uma mulher americana levanta questões sobre a autenticidade na representação da cultura irlandesa.
A Irlanda moderna é tecnologicamente avançada e um dos países mais ricos da UE. No entanto, filmes como “An Irish Wish” perpetuam estereótipos ultrapassados, distorcendo a imagem real do país. A produção envolveu a respeitável Wild Atlantic Pictures da Irlanda, mas ainda assim apresentou elementos folclóricos questionáveis, como a figura de São Brígida vestida de maneira caricata.
Em contraste, a refilmagem da série “Shogun” demonstra um entendimento respeitoso e informado da história e cultura japonesas, algo que falta em “An Irish Wish”. A indústria cinematográfica irlandesa é frequentemente criticada por retratar os irlandeses de forma simplista, bebendo Guinness – uma exportação internacional lucrativa – enquanto a realidade é muito mais complexa e rica.
Apesar dos clichês, o talento irlandês tem pavimentado um caminho internacional no cinema. Atuações como as de Paul Mescal e Andrew Scott, bem como a vitória de Cillian Murphy no Oscar por “Oppenheimer”, destacam o sucesso dos atores irlandeses. Atores estabelecidos como Liam Neeson, Pierce Brosnan e Colin Farrell abriram portas para que novos talentos emergissem.
Os criativos irlandeses estão cientes da ‘verdadeira’ Irlanda, com todos os seus defeitos e pecados, e devem utilizá-los em suas obras. A representação simplista do povo irlandês como meros coadjuvantes para grandes nomes ou roteiristas que conhecem a Irlanda apenas de ouvir falar precisa ser revista. A Irlanda é uma nação antiga, com uma rica tradição mística, amor pela palavra escrita e falada, pela música e dança, e por uma terra linda cuja natureza espiritual ainda oferece inspiração aos criativos.
O mesmo desafio se apresenta para Chipre, que também luta para retratar sua própria história e cultura com autenticidade. Com talento técnico e educacional disponível localmente, resta saber se os artistas cipriotas conseguirão impactar além das fronteiras da ilha. A Irlanda já mostrou que é possível; agora é a vez de Chipre encontrar sua voz única na tela global.




