Desafios no Mercado Imobiliário Cipriota
O mercado imobiliário de Chipre enfrenta tempos difíceis, com os cipriotas a serem progressivamente excluídos devido à incapacidade de suportar os crescentes preços de aluguer. O aumento dos custos de construção e das taxas de juro tem tornado a habitação a preços acessíveis uma miragem, e a intervenção governamental é agora mais crucial do que nunca.
Apesar da recuperação significativa do setor imobiliário da ilha, em meio à crise energética, os habitantes locais enfrentam um mercado implacável. Os custos de construção dispararam mais de 30% e o aumento das taxas hipotecárias inflacionou ainda mais os preços. A economia cipriota, impactada pela guerra na Ucrânia e conflitos no Médio Oriente, viu a inflação atingir níveis elevados, afetando sobretudo os grupos mais vulneráveis.
Este cenário levou as famílias cipriotas a repensarem a possibilidade de contrair empréstimos para a compra de casa, resultando numa queda na procura por hipotecas. O aluguer de apartamentos tornou-se um pesadelo, especialmente em Limassol e na capital Nicósia, onde os preços estão fora do alcance dos cipriotas.
A chegada crescente de empresas de alta tecnologia e fintech a Chipre, apesar de dinamizar a economia, complicou a busca por habitação dos locais. Os empregados destas empresas, com salários mais elevados, conseguem suportar alugueres mais altos e tendem a optar por propriedades mais recentes, retirando-as do mercado para os cipriotas com rendimentos mais baixos.
Em todas as cidades cipriotas, a procura supera a oferta. Em Nicósia e Limassol, qualquer novo projeto residencial é vendido ainda em planta ou durante o período de construção, enquanto apartamentos para alugar a preços acessíveis são raros.
Limassol Fora do Alcance
Segundo dados da Danos International Property Consultants and Valuers, alugar um T1 em Limassol custa no mínimo €850 por mês, enquanto um T2 pode custar pelo menos €1.300. Já um T3 é praticamente impossível para um salário cipriota, com alugueres na ordem dos €1.700 mensais.
Embora os dados recentes do CyStat mostrem um aumento médio nos salários mensais brutos dos cipriotas para €2.693 no quarto trimestre de 2023, mais da metade dos trabalhadores recebe em média apenas €1.500. O salário mínimo no país está fixado em €1.000.
Em Nicósia, o aluguer de um T1 varia entre €550 e €650, enquanto um T2 custa no mínimo €750. Por outro lado, um apartamento de 85 metros quadrados numa área nobre da capital, como Engomi, tem um custo mensal de €900. Os residentes que procuram alternativas mais baratas devem deslocar-se para os subúrbios.
Os alugueres em Larnaca e Paphos são mais baixos por enquanto, mas o interesse dos investidores estrangeiros e empresas de alta tecnologia está a aumentar.
O Que Precisa Ser Feito
O governo necessita acelerar sua estratégia habitacional para estimular o desenvolvimento de habitação a preços acessíveis. No início do ano, o conselho de ministros aprovou incentivos à construção propostos pelo Ministério do Interior. O objetivo é disponibilizar cerca de 800 unidades residenciais no mercado a preços acessíveis nos próximos três anos.
Como parte de uma iniciativa estratégica, foi introduzida uma nova política habitacional. Proprietários com terrenos acima de 1.000 m² e coeficiente de construção superior a 100% agora têm acesso a um adicional lucrativo de 45% no coeficiente de construção. Estes incentivos visam promover habitação a preços acessíveis através do aumento do coeficiente de construção.
No entanto, o governo terá que considerar as preocupações dos promotores imobiliários e agentes imobiliários, pois o plano atual apresenta desafios de liquidez. Os promotores precisarão encontrar investidores dispostos a esperar pelo retorno do investimento das unidades habitacionais adicionais.
Kyriacos Kiliaris, Diretor de Marketing da Danos International Property Consultants and Valuers, enfatiza que muitos projetos são autofinanciados, já que os promotores recorrem a investidores para financiamento, tornando a implementação do plano um desafio por si só.
