Tragédia no Canal da Mancha
Cinco migrantes, incluindo uma criança, perderam a vida na terça-feira, numa tentativa desesperada de atravessar o Canal da Mancha de França para a Grã-Bretanha. O pequeno barco, sobrelotado e inadequado para a viagem, naufragou horas após a aprovação de uma legislação britânica controversa.
O incidente trágico aconteceu quando um barco com 112 pessoas a bordo tentou cruzar uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo. O pânico instalou-se entre os passageiros pouco depois da partida, quando o motor parou a poucas centenas de metros da costa francesa. Resgatados por socorristas, 49 indivíduos foram salvos, dos quais quatro necessitaram de hospitalização. No entanto, outros permaneceram a bordo, determinados a alcançar o solo britânico.
O prefeito local, Jacques Billant, relatou aos jornalistas o ocorrido: “Uma tragédia ocorreu num barco sobrecarregado com migrantes esta manhã. Lamentamos a morte de cinco pessoas, uma menina de sete anos, uma mulher e três homens”.
Apesar do resgate inicial, 58 pessoas decidiram ficar no barco. “Elas não queriam ser resgatadas, conseguiram reiniciar o motor e seguiram em direção à Grã-Bretanha”, explicou Billant. O barco partira de Wimereux, localidade situada a cerca de 32 km a sudoeste do porto francês de Calais.
Este ano, mais de 6.000 pessoas chegaram à Grã-Bretanha através de pequenos barcos sobrecarregados, muitos dos quais são frágeis botes infláveis que enfrentam o risco de serem açoitados pelas ondas. Desde 2018, dezenas de milhares fizeram a perigosa jornada.
O governo britânico passou dois anos tentando superar a oposição a uma política divisiva que envia requerentes de asilo para o Ruanda, esperando que isso desencoraje as travessias. O primeiro-ministro Rishi Sunak afirmou que espera que os primeiros voos de deportação decolem dentro de 10 a 12 semanas, tempo este que permite novos desafios legais por parte de organizações caritativas e grupos ativistas.
Grupos de direitos humanos criticam a política como desumana, mas Sunak defendeu que o governo age por compaixão, buscando prevenir que traficantes de pessoas coloquem indivíduos vulneráveis em risco no mar. Em contrapartida, críticos afirmam que políticas de dissuasão simplesmente não funcionam.
O prefeito de Wimereux, Jean-Luc Dubaele, apontou que os migrantes ainda conseguem empregos na Grã-Bretanha, tornando-a um destino atrativo independentemente das políticas implementadas. “Os ingleses são responsáveis pela situação”, declarou.
Enquanto isso, o esquema de deportação para o Ruanda enfrenta controvérsias legais desde que o primeiro voo em junho de 2022 foi bloqueado por juízes europeus. A Suprema Corte britânica manteve uma decisão que considerava o esquema ilegal por colocar os migrantes em risco de serem enviados de volta aos seus países de origem ou para outros onde poderiam sofrer maus-tratos.