Indústria Automóvel em Alerta com Despedimentos na Rede de Superchargers da Tesla
A decisão repentina de Elon Musk de despedir funcionários responsáveis pelo negócio de carregamento de veículos eléctricos da Tesla apanhou de surpresa os fabricantes de automóveis que se preparavam para equipar os novos EVs com acesso à Rede de Superchargers da Tesla. Esta terça-feira, representantes da indústria e analistas expressaram a sua preocupação.
Apesar dos despedimentos, empresas como a General Motors (GM.N) e a Ford (F.N), que no ano passado firmaram acordos para permitir que os seus clientes acedessem à rede, afirmaram que não pretendem alterar os seus planos. A abertura da rede da Tesla a outros fabricantes de EV foi aplaudida pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, e possibilitou à Tesla a obtenção de subsídios federais para expandir o sistema NACS (North American Charging Standard).
A demissão da chefe do negócio, Rebecca Tinucci, e da maioria ou totalidade da equipa que operava e mantinha o sistema, segundo dois ex-funcionários e várias publicações no LinkedIn, deixou muitos em dúvida sobre o futuro da rede. A Tesla não respondeu aos pedidos de comentário, mas Musk afirmou que ainda planeia expandir a rede de Superchargers, embora a um ritmo mais lento para novas localizações, focando-se na expansão das existentes.
Andres Pinter, co-CEO da Bullet EV Charging Solutions, fornecedor da rede, comentou o impacto desta notícia na sua equipa. “Como contratados para a Rede de Superchargers, acordámos com um choque esta manhã.”
GM e Ford reiteraram em declarações separadas que não vão alterar os planos de equipar os seus EVs com conectores compatíveis com as estações Tesla. “Não temos novidades a anunciar sobre os nossos planos”, disse a GM. “Continuamos a monitorizar a situação relativa às mudanças na equipa dos Superchargers e os potenciais impactos, sem mais comentários ou atualizações neste momento.”
Alguns executivos e analistas da indústria sugerem que Musk pode ter desmantelado a organização existente dos Superchargers para construir uma equipa mais enxuta e menos dispendiosa. No entanto, Musk deixou claro que está focado em oportunidades em inteligência artificial, robótica e robotáxis autónomos.
Dan Ives, analista da Wedbush Securities, mencionou que “neste despedimento, nada está fora de questão”. “Musk está a tentar enviar um sinal interno de que diante das dificuldades que a Tesla enfrenta, terão de ser tomadas decisões difíceis… Isto demonstra um sério foco nos custos.”
Com as vendas dos EVs da Tesla em queda e as margens de lucro sob crescente pressão, Musk poderá estar a reduzir os gastos com a rede Supercharger para conservar dinheiro para outros projetos com maior potencial de crescimento. “A Tesla está a tentar ajustar os seus gastos de capital e despesas operacionais nos próximos anos, já que a empresa está numa fase de crescimento mais lento”, disse Seth Goldstein, analista da Morningstar.
Enquanto fabricantes tradicionais poderiam manter um negócio que promete receitas estáveis e trocas contínuas de dados com clientes, Musk poderia adotar uma visão de empreendedor do Vale do Silício, considerando o carregamento como um negócio legado passível de ser otimizado ou até vendido. “A minha suposição é que agora que a indústria adotou o padrão NACS, ele vê o Supercharging menos como uma vantagem estratégica e mais como um centro de custo”, disse KC Boyce, vice-presidente da empresa de análise de dados Escalent.
A Rede de Superchargers da Tesla poderia ter um valor significativo se Musk quisesse vendê-la. Redes concorrentes nos EUA têm enfrentado problemas de confiabilidade e não possuem a escala ou as localizações privilegiadas que a Tesla conseguiu assegurar. No último ano, sete grandes fabricantes de automóveis formaram uma joint venture chamada Ionna para desenvolver uma rede de carregamento rápido para competir com a Rede de Superchargers da Tesla.
