O Impacto do Trauma na Autoanálise em “Baby Reindeer”
A dor e o trauma assumem inúmeras formas, mutáveis e evolutivas, influenciando diretamente a nossa perceção da realidade e dos momentos que se avizinham nas nossas vidas. A série “Baby Reindeer”, escrita e interpretada por Richard Gadd, oferece aos espectadores uma experiência íntima e perturbadora, que se tornou um fenómeno global desde o seu lançamento na Netflix a 11 de abril.
Cada indivíduo reage de maneira distinta aos eventos que os marcam profundamente, e é nessas reações que residem as fraquezas que nos definem e moldam o nosso futuro. Estas reações são muitas vezes indescritíveis, efémeras e ao mesmo tempo opressivas. “Baby Reindeer” é um convite de Gadd para entrarmos no seu espaço pessoal, e uma vez lá dentro, a saída parece não ser uma opção.
O encanto sombrio da narrativa de “Baby Reindeer”, aliado a um desconforto gradual que emerge do desenrolar dos eventos, encontra confirmação na escrita cuidadosa e profundamente introspectiva do próprio protagonista. Gadd apresenta a sua história sem filtros, revelando experiências arrepiantes que o marcaram de forma indelével.
Contudo, “Baby Reindeer” não esgota o seu potencial temático e narrativo ao contar apenas uma história de perseguição. Utiliza o stalking como ponto de partida para dissecar as vivências de duas pessoas, cada uma com o seu próprio conjunto de experiências, traumas e demónios internos a confrontar e – talvez – a desafiar finalmente.
Esta obra é mais do que uma autobiografia; é um estudo sobre a natureza humana e a complexidade do processo de