A Onda de Calor e o Aquecimento dos Oceanos: Um Feedback Climático Desconhecido?
À medida que a onda de calor se estende pelo Sul e Sudeste Asiático, atingindo temperaturas recordes de 45°C em algumas áreas, cientistas debatem as causas subjacentes deste fenómeno. O professor Krishna AchutaRao do Indian Institute of Technology questiona a teoria de que o El Niño seja o responsável, apontando para um padrão mais amplo e preocupante.
Com os últimos onze meses registando as temperaturas médias globais mais altas já vivenciadas para cada mês correspondente, a comunidade científica está em busca de respostas. Uma das hipóteses é a de que estamos a testemunhar uma confirmação das afirmações do cientista climático Jim Hansen, que sugere um salto de meio grau Celsius na temperatura média global devido à redução das emissões de dióxido de enxofre, que anteriormente refletiam a luz solar.
Outra possibilidade é que tenhamos desencadeado um feedback climático significativo em algum sistema natural até então desconhecido. Existem cerca de uma dúzia de pontos de inflexão conhecidos, mas também há a possibilidade de existirem outros ainda não identificados. A questão do aquecimento dos oceanos surge como um candidato provável para este novo feedback misterioso.
Os oceanos, que absorveram cerca de um quarto do dióxido de carbono emitido pelos humanos desde o início da utilização intensiva de combustíveis fósseis, bem como cerca de 90% do calor excedente, podem estar agora a devolver parte desse calor. Com a temperatura média da superfície do mar atingindo um pico histórico de 21.09°C, segundo o Serviço Climático Copernicus da União Europeia, o temor é que possamos estar a aproximar-nos do limite da capacidade oceânica de reter calor.
Embora a limpeza das emissões tenha sido um passo importante para a saúde ambiental, alguns cientistas questionam se a perda do efeito de arrefecimento é suficiente para explicar o aumento da temperatura. A falta de dados sobre o comportamento das correntes oceânicas profundas tornou difícil prever este feedback desconhecido, mas muitos sempre temeram que haveria um limite para quanto calor os oceanos poderiam conter a longo prazo.
Estamos agora perante a possibilidade de descobrir esse limite, o que poderia representar o maior feedback climático já conhecido. Ou talvez se revele um alarme falso desta vez. O fato de ainda não sabermos ao certo ilustra a profundidade da nossa ignorância e a escala do nosso perigo.
