Esterilização Forçada em Chipre: Uma Prática Legal com Contornos Éticos
Numa realidade que muitos desconhecem, Chipre figura entre os 12 países da União Europeia onde a esterilização forçada de pessoas com deficiência é legal ou, pelo menos, não é explicitamente proibida. Esta prática, muitas vezes oculta nas clínicas, lares e instituições, é considerada por alguns como uma violação degradante dos direitos humanos, enquanto outros a veem como uma necessidade dolorosa.
Christakis Nicolaides, líder da associação de pessoas com deficiência (Kysoa), afirma que a esterilização forçada ocorre principalmente em pessoas com deficiências intelectuais, embora os dados sejam escassos. No ano passado, Nicolaides denunciou o caso de uma mulher que foi submetida ao procedimento após o parto, sem o seu consentimento.
Por outro lado, Iacovos Valanides, presidente da associação de pais e amigos de crianças com necessidades especiais, disse nunca ter ouvido falar de tais práticas. No entanto, reconhece que as preocupações sobre abusos em instituições são muito reais, especialmente em locais fechados onde as vítimas podem não ser capazes de comunicar.
O ginecologista Dr. Gavriel Kalakoutis admite que a esterilização forçada ocorre “em raras ocasiões”, referindo um caso recente em que uma mãe solicitou a esterilização da filha para protegê-la de assédio.
As leis de Chipre criminalizam a esterilização forçada, com penas de até 10 anos de prisão e/ou multa. Contudo, as leis de saúde mental permitem procedimentos intrusivos como a esterilização se houver consentimento do tutor.
A ativista espanhola dos direitos das pessoas com deficiência, Cristina Paredero, foi coagida a ser esterilizada aos 18 anos e agora lidera uma campanha pela proibição da prática em toda a UE. Ela ajudou a elaborar uma lei em 2020 que proíbe a esterilização forçada ou coagida na Espanha e cortou todos os laços com seus pais após o ocorrido.
A Associação Médica de Chipre não comentou imediatamente sobre o assunto. A Dra. Afroditi Elisseou, chefe da associação de ginecologistas, afirmou nunca ter ouvido falar de esterilizações forçadas no país. O último relatório de direitos humanos dos EUA em 2023 especificou “não houve relatos de aborto coagido ou esterilização involuntária”, mas identificou advertências de uma ONG sobre “casos suspeitos de pessoas com deficiências intelectuais submetidas a abortos em lares para pessoas com deficiências”.
Dimitris Parperis, psicólogo da Associação de Planejamento Familiar de Chipre, aponta que o medo e a falta de educação adequada sobre sexo podem levar os pais a procurar a esterilização forçada para seus filhos. Ele destaca que métodos menos invasivos, como o DIU, estão disponíveis e são preferíveis à intervenção permanente.
A discussão sobre esterilização forçada continua controversa, com opiniões divergentes sobre a autonomia e capacidade das pessoas com deficiência serem pais. Enquanto algumas campanhas buscam proibir essa prática considerada bárbara, outras vozes argumentam que, em casos excepcionais, ela pode ser justificável.