Violência em Nova Caledônia Provoca Resposta Militar
Após uma terceira noite de tumultos violentos que resultaram na morte de quatro pessoas, as forças armadas estão agora a proteger os dois aeroportos e o porto da Nova Caledônia, afirmou o principal oficial francês da ilha do Pacífico na quinta-feira de manhã. Adicionalmente, pelo menos quatro supostos instigadores foram colocados em prisão domiciliária.
Em três municípios da ilha governada pela França, os gendarmes enfrentaram cerca de 5.000 manifestantes, incluindo entre 3.000 e 4.000 na capital Noumea, disse o Alto Comissário francês Louis Le Franc numa conferência de imprensa televisionada. Duzentas pessoas foram detidas e 64 gendarmes e polícias ficaram feridos, enquanto barricadas nas estradas erguidas pelos manifestantes estão a causar uma “situação crítica” para o fornecimento de medicamentos e alimentos para a população.
A França declarou estado de emergência em Nova Caledônia, que entrou em vigor às 5h da manhã, hora local (1800 GMT de quarta-feira), concedendo às autoridades poderes adicionais para proibir reuniões e restringir a circulação pela ilha.
Reforços policiais, adicionando 500 oficiais aos 1.800 normalmente presentes na ilha, foram enviados após os manifestantes incendiarem veículos e negócios e saquearem lojas. Yoan Fleurot, residente de Noumea, relatou à Reuters numa entrevista via Zoom que presenciou saques e destruição de propriedades. Alguns proprietários de lojas permitiram que suas prateleiras fossem saqueadas, implorando para que seus estabelecimentos não fossem destruídos.
Fleurot revelou estar armado com uma espingarda calibre 16 e ter instalado vigilância por vídeo em volta da sua casa, acrescentando que só se aventurou a sair durante o dia para verificar o estado dos seus pais ou das suas propriedades. Os bloqueios nas estradas eram difíceis de atravessar, e ele foi sujeito a insultos e ameaças de violência. “Sou neocaledónio, mas já não reconheço mais o meu país”, disse ele.
As principais e secundárias vias de Noumea estavam bloqueadas por barricadas com carros em chamas e carcaças de veículos, algumas armadilhadas com garrafas de gás e sistemas de ignição, disse o oficial francês Le Franc.
O motim eclodiu devido a um novo projeto de lei, adotado pelos legisladores em Paris na terça-feira, que permitirá aos residentes franceses que vivem em Nova Caledônia há 10 anos votar nas eleições provinciais – um movimento que alguns líderes locais temem que dilua o voto indígena Kanak. Três jovens Kanak morreram nos tumultos, e um oficial da polícia de 24 anos morreu devido a um ferimento de bala.
O estado de emergência durará 12 dias e as autoridades também proibiram a aplicação de vídeo TikTok. A reforma eleitoral é o último ponto de discórdia numa luta de décadas sobre o papel da França na ilha rica em minerais, localizada no sudoeste do Pacífico, a cerca de 1.500 km (930 milhas) a leste da Austrália.
