O grupo G20, que representa as maiores economias do mundo, está discutindo pela primeira vez um imposto sobre bilionários. A questão central é: por que os muito, muito ricos são tão ricos? E isso é um problema? O que devemos fazer a respeito?
Teorias Econômicas e a Concentração de Riqueza
Martin Sandbu, comentador econômico europeu do FT, sugere três teorias principais para a concentração de riqueza no topo da pirâmide econômica. Primeiro, a teoria de Thomas Piketty, que afirma que o retorno sobre o capital (r) é maior do que o crescimento econômico (g). Em segundo lugar, mudanças nas políticas econômicas desde os anos 70 e 80, incluindo menos impostos sobre o capital e políticas desregulatórias. Por fim, a transformação tecnológica que criou uma economia mais globalizada e baseada em serviços, favorecendo uma estrutura de “o vencedor leva tudo”.
Robert Armstrong menciona John Rawls, filósofo político americano, que argumenta que uma sociedade justa tolera altos níveis de desigualdade desde que todos, especialmente os mais pobres, estejam melhorando suas condições de vida. Sandbu concorda, mas ressalta que a preocupação com a desigualdade aumenta quando essa promessa falha, especialmente em momentos de crise econômica.
A Proposta de Imposto sobre Bilionários
Pela primeira vez, o G20 discutiu a tributação de indivíduos muito ricos. A proposta foi feita pelo economista francês Gabriel Zucman e sugere que indivíduos com mais de $1 bilhão em patrimônio líquido paguem pelo menos 2% desse valor em impostos. Se já pagam impostos de renda nesse montante, não precisam pagar mais. A ideia é aplicar isso globalmente para evitar que mudem sua residência para evitar impostos.
Sandbu acredita que identificar e avaliar a riqueza dos super-ricos é possível, embora trabalhoso. Ele menciona que países como Suíça e Noruega já possuem impostos sobre a riqueza e que é uma questão de vontade política implementar tais medidas.
Desafios e Caminhos para a Implementação
Um desafio significativo é evitar que jurisdições menores se tornem paraísos fiscais. Sandbu argumenta que isso pode ser resolvido se as principais economias decidirem agir contra essas práticas. Ele também destaca que a reforma da tributação corporativa mostra que mudanças significativas são possíveis com vontade política.
Finalmente, Sandbu sugere que uma forte necessidade de investimento em infraestrutura e serviços públicos pode impulsionar a aceitação dessa proposta. Ele estima que tal imposto poderia arrecadar entre $200 bilhões e $300 bilhões por ano globalmente.
Robert Armstrong conclui destacando a importância de um entendimento multilateral para dividir a arrecadação desse imposto de forma justa entre os países. Ele acredita que, uma vez implementado para bilionários, será difícil justificar a exclusão de pessoas com centenas de milhões em patrimônio líquido.
Para os bilionários ouvindo o podcast, Martin Sandbu deixa um recado: “Vocês podem correr, mas não podem se esconder.”