**Relatório SOFA 2023 revela custos ocultos da alimentação que ultrapassam os preços de retalho**
Numa análise recente, Kathleen Merrigan destaca que o custo dos alimentos é significativamente superior ao valor pago nos supermercados. Apesar da inflação dos preços alimentares a desacelerar no retalho, um fenómeno positivo para os consumidores, especialmente os de baixo rendimento, a contabilidade analítica revela que há custos adicionais no processo de produção, processamento, transporte e comercialização dos alimentos.
Estes custos ocultos, muitas vezes suportados pela sociedade ou por comunidades específicas, incluem impactos ambientais como a produção de metano em aterros devido ao desperdício alimentar. O relatório “The State of Food and Agriculture” (SOFA) de 2023, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, utiliza a contabilidade analítica para calcular que o custo global do sistema agroalimentar em 2020 foi cerca de US$12.7 triliões acima do que os consumidores pagaram no retalho.
Este valor representa aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto global ou $5 por pessoa por dia em todo o mundo. A contabilidade analítica procura tornar visíveis as externalidades, sejam elas positivas, como a polinização gratuita de culturas por aves e insetos, ou negativas, como a poluição.
O relatório SOFA 2023 identifica padrões claros: 39% dos custos ocultos são gerados por países de rendimento médio-alto e 36% por países de alto rendimento. Nos países ricos, 84% desses custos derivam de padrões alimentares pouco saudáveis, enquanto em países de baixo rendimento, 50% dos custos ocultos são sociais, relacionados à pobreza e subnutrição.
A produção alimentar também acarreta custos ambientais significativos, como o escoamento de nitrogénio, emissões de amoníaco, desflorestação e poluição da água. A contabilidade analítica sugere uma reorientação das políticas governamentais e dos subsídios agrícolas globais, que totalizam $540 mil milhões anuais, para métodos de produção sustentáveis e equitativos.
Kathleen Merrigan defende que a transparência criada pela contabilidade analítica pode ajudar a redirecionar investimentos para sistemas alimentares que protejam recursos e comunidades rurais, reduzindo assim os custos ocultos da alimentação.