Num contexto de crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental e a necessidade de transição para uma economia mais verde, o Governo de Christodoulides enfrenta um desafio delicado ao tentar equilibrar as decisões governamentais com as expectativas dos cidadãos e das empresas. O Ministro das Finanças, Makis Keravnos, tem defendido os “enormes benefícios” dos planos de fiscalidade verde, apesar do ceticismo generalizado.
A partir do final deste mês, a redução de 8,3 cêntimos no imposto ao consumidor por litro de combustível chegará ao fim. Além disso, está prevista a introdução de uma taxa verde de 5 cêntimos a partir de 1 de abril. Embora os partidos políticos possam adiar a sua implementação, existe a possibilidade de que, já no próximo mês, o preço por litro de gasolina aumente entre 14 a 15 cêntimos. Esta perspectiva não se alinha com a ideia de benefício para o bolso dos consumidores, apesar de Keravnos argumentar que a fiscalidade verde “desencorajará o desperdício de energia e recursos naturais”.
Keravnos também afirmou que o imposto sobre o carbono nos combustíveis seria “imperceptível” e que haveria medidas para compensar a tributação – toda a receita do imposto sobre o carbono seria devolvida às empresas e famílias de formas ainda não decididas. No entanto, esta afirmação parece desonesta, pois ninguém será reembolsado pelas contas mais altas que terá de pagar. Poderá haver medidas de apoio direcionadas para famílias vulneráveis, mas para o resto da população, um custo de vida mais elevado é uma realidade incontornável.
Outro aspecto ignorado pelo Governo é a pressão inflacionista que a fiscalidade verde poderá causar. É certo que os custos mais elevados dos combustíveis impulsionarão os preços, pois as empresas repercutirão os custos adicionais nos consumidores, precisamente quando parecia que a taxa de inflação estava sob controlo.
A decisão do regulador energético Cera de rejeitar a proposta da Autoridade de Eletricidade para um aumento da tarifa em quase 6% pode ter sido influenciada pelo Governo, preocupado com a reação pública, especialmente porque o subsídio nas contas de eletricidade está previsto terminar no final de abril e é improvável que seja prorrogado.
As medidas temporárias de alívio fiscal nos preços dos combustíveis criam a impressão de serem uma opção política viável. No entanto, os partidos políticos já falam em estender o corte fiscal sobre o combustível e em abril provavelmente buscarão uma extensão para o subsídio da eletricidade. Resta saber se o Governo cederá, apesar dos riscos para as finanças públicas, ou se manterá firme.
A estratégia de embelezar políticas impopulares e apresentar rotações positivas não pode funcionar indefinidamente. Eventualmente, as pessoas serão afetadas pela realidade. Keravnos está comprometendo sua credibilidade e a do Governo ao falar dos enormes benefícios dos impostos verdes e fingir que eles não prejudicarão financeiramente as pessoas, por causa dos compensações.
O Governo precisa compreender que há momentos em que deve dizer as coisas como elas são, pelo bem do país.