Irlanda, apesar do seu pequeno tamanho territorial e população, é um dos países mais ricos do mundo. A nação insular ostentou um PIB per capita de $104,270 em 2023, segundo o FMI, ficando atrás apenas de Luxemburgo e acima dos EUA, Suíça, Singapura e Noruega. É também uma das economias de crescimento mais rápido no mundo, com seu PIB crescendo 15,1 por cento e 9,1 por cento em 2023 e 2022, respectivamente.
Um refúgio fiscal para gigantes tecnológicos dos EUA
No século XX, líderes irlandeses começaram a implementar políticas pró-negócios para impulsionar sua economia. O país estabeleceu a primeira zona de comércio livre do mundo fora de seu pequeno mercado internacional de importação em 1959, atraindo empresas internacionais para construir fábricas. Apelidada de “Zona de Comércio Livre de Shannon,” as corporações podiam evitar impostos construindo na Irlanda e contratando trabalhadores locais. O país também criou um ambiente empresarial marcado por baixos impostos e regulamentação branda, incluindo a controversa brecha fiscal conhecida como “Double Irish with a Dutch Sandwich.”
A Apple (AAPL) foi uma das primeiras a aproveitar a brecha, abrindo seu primeiro escritório fora dos EUA na Irlanda em 1980. Dezenas de empresas de tecnologia e farmacêuticas seguiram o exemplo, alimentando a criação de empregos e o crescimento econômico. De 1995 a 2005, o crescimento anual do PIB da Irlanda teve uma média notável de 9,4 por cento, ganhando ao país o apelido de “Tigre Celta.”
A Zona de Comércio Livre de Shannon terminou em 2003, e a UE forçou o fim da brecha fiscal “Double Irish” em 2015. No entanto, a Irlanda se estabeleceu como um centro para empresas americanas que buscam expandir-se para mercados europeus, então o impulso continua: em 2023, 167 empresas americanas abriram escritórios na Irlanda.
A Irlanda ainda tem uma das taxas de imposto corporativo mais baixas da Europa, com 12,5 por cento, muito abaixo da taxa de imposto corporativo de 21 por cento nos EUA e é o único país de língua inglesa restante na UE após o Brexit. O governo irlandês está buscando aumentar a taxa de imposto corporativo para 15 por cento para algumas grandes empresas, mas o apelo permanece. “Google (GOOGL) e outras empresas de tecnologia estão aqui por um motivo, e são os impostos,” disse anonimamente um analista financeiro do Google baseado em Dublin ao Observer.
Os gigantes tecnológicos americanos desempenham um papel desproporcional na economia da Irlanda. Cerca de 60 por cento da receita fiscal corporativa da Irlanda vem de apenas 10 empresas americanas, segundo o departamento de Impostos e Alfândegas da Irlanda.
O PIB pode ser uma medida enganosa
No entanto, o governo irlandês considera o PIB uma maneira inadequada de medir sua economia. O PIB é a soma das despesas governamentais, consumo privado e público, exportações líquidas e investimento. Na Irlanda, no entanto, as duas últimas medidas são altamente distorcidas por corporações multinacionais operando no país.
Por exemplo, a Apple afirma que os iPhones são exportados da Irlanda para fins contábeis quando na verdade são projetados nos EUA e principalmente fabricados na Ásia. Assim, as vendas de iPhone representaram um quarto do crescimento do PIB irlandês em 2018, mas dificilmente trouxeram dinheiro para o país. O Instituto Fiscal Irlandês descobriu que 85 por cento das exportações da Irlanda vêm de empresas estrangeiras.
Os investimentos na Irlanda também são distorcidos: um estudo do FMI descobriu que dois terços dos investimentos feitos no país são “fantasmas,” ou seja, “passam por conchas corporativas vazias” sem benefício para a economia real.
Para entender melhor sua economia, o governo irlandês usa a renda nacional bruta (RNB) e a demanda doméstica modificada (DDM), que eliminam grande parte da distorção das corporações internacionais. Quando medido pela RNB e DDM, a Irlanda está longe de ser uma nação rica e de rápido crescimento, mas sim uma economia que cresceu lentamente na última década.
A história econômica da Irlanda destaca as limitações do PIB em medir a verdadeira riqueza de um país. Embora os investimentos multinacionais tenham impulsionado a Irlanda ao topo das tabelas do PIB, o cidadão irlandês médio enfrenta uma realidade diferente.
