Num contexto onde a crise habitacional e os preços exorbitantes dos aluguéis se tornam cada vez mais prementes, a série “Crashing”, disponível na Netflix, traz à tona uma prática ainda pouco explorada em Chipre: a tutela de bens. Inspirando-se no modelo britânico, a série sugere uma solução de habitação acessível que poderia ser adaptada para as realidades locais, como Chlorakas e Nicosia.
A tutela de bens é um conceito que permite a ocupação legal de imóveis vazios por “guardiões”, que pagam uma taxa mínima para residir em locais como complexos habitacionais abandonados, fábricas condenadas ou centros comerciais antigos. Em troca, estes guardiões protegem a propriedade de invasões e vandalismo enquanto aguardam renovação ou demolição.
Esta abordagem não só oferece uma alternativa de moradia a custo reduzido para quem enfrenta dificuldades financeiras, mas também garante a segurança e manutenção dos imóveis desocupados. A série destaca a vida nômade dos guardiões, que podem ter que deixar o “lar” a qualquer momento, mas também enfatiza as relações interpessoais complexas que surgem em tais circunstâncias comunitárias.
A chegada de Lulu, interpretada pela criadora da série Phoebe Waller-Bridge, adiciona uma camada extra de tensão sexual e dinâmica às já intrincadas relações entre os personagens. “Crashing” retrata de forma crua e realista as nuances das interações humanas, ressoando com experiências vividas nas diversas fases da vida adulta.
Diante do recente incêndio na histórica mansão Pavlidis em Limassol, a série levanta uma questão pertinente: poderia a tutela de bens ser uma estratégia eficaz para preservar e dar utilidade a edifícios listados e patrimônios históricos da região?
Enquanto Chipre pondera sobre soluções para seus desafios habitacionais, “Crashing” oferece um ponto de reflexão valioso sobre como modelos alternativos de moradia podem não apenas aliviar a pressão do mercado imobiliário, mas também revitalizar espaços esquecidos, fortalecendo as relações comunitárias e preservando o patrimônio cultural.