A França está apostando em um novo impulso para integrar os fragmentados mercados de capitais da União Europeia, a fim de dar-lhes a escala necessária para afastar seu florescente setor de startups do capital de risco dominante dos EUA, disseram ministros, CEOs e investidores. Uma miscelânea de regulamentos locais e supervisão manteve os mercados financeiros da Europa amplamente moldados por fronteiras nacionais, impedindo o surgimento de mercados de capitais profundos para rivalizar com os Estados Unidos.
Para startups na França e em outros lugares da União Europeia, isso significa que elas quase inevitavelmente recorrem ao capital de risco dos EUA – financiamento de private equity para empresas promissoras em estágio inicial – para financiar o crescimento, já que simplesmente não há investidores grandes o suficiente em casa.
Embora o financiamento dos EUA seja bem-vindo, o resultado é uma oportunidade perdida para a Europa, disse Matthieu Rouif, CEO da startup francesa Photoroom, que recentemente arrecadou 43 milhões de dólares do fundo britânico Balderton e da Y Combinator do Vale do Silício.
“Uma enorme quantidade de riqueza foi criada nos últimos 20 anos, criada com base na inovação tecnológica, e o fato de os europeus não terem acesso a isso é um grande problema”, disse ele na feira Viva Technology em Paris na semana passada.
União dos Mercados de Capitais
As 10 maiores firmas de capital de risco são todas dos Estados Unidos e superam suas rivais europeias nas quantias que podem arrecadar para investimento, segundo o banco central francês. Um relatório publicado pela firma de capital de risco Atomico em 2023 estimou que as startups europeias arrecadariam 45 bilhões de dólares naquele ano, em comparação com os 120 bilhões arrecadados nos EUA.
O governo francês está, portanto, pressionando para que a próxima Comissão Europeia faça da revitalização dos planos há muito paralisados para a união dos mercados de capitais da UE uma prioridade, harmonizando regulamentos financeiros e supervisão em todo o bloco de 27 nações. Embora um consenso esteja emergindo entre os governos da UE para avançar pelo menos em princípio, na prática alguns permanecem relutantes em perder o controle regulatório de seus mercados financeiros.
O Ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, alertou que a Europa não pode se dar ao luxo de continuar hesitando, citando o exemplo da Mistral AI, a resposta da França ao OpenAI.
“A Mistral precisa arrecadar dinheiro nos próximos seis meses, vai ser muito dinheiro. Então, ou avançamos com a união dos mercados de capitais ou eles irão para outro lugar”, disse Le Maire na feira de tecnologia em Paris.
Outra maneira de aumentar o capital de risco da UE seria envolver mais investidores do setor público, como o Banco Europeu de Investimento, no financiamento de startups aceitando mais riscos do que os investidores privados, disse o governador do Banco da França, François Villeroy de Galhau.
Enquanto isso, para as firmas europeias de capital de risco, um mercado unificado único tornaria mais atraente abrir o capital das empresas que financiam na Europa em vez dos Estados Unidos.
“Como cidadão francês, é uma vergonha ver que a roda da criação de valor não está girando tão rápido na Europa quanto nos EUA”, disse Antoine Moyroud do fundo de capital de risco Lightspeed do Vale do Silício, que é um dos investidores da Mistral.
As startups europeias que acabam abrindo capital nos mercados domésticos também poderiam esperar uma base de investidores mais estável do que nos Estados Unidos, onde os investidores são mais propensos a vender participações em empresas estrangeiras durante uma recessão, disse Louis Dussart do grupo de capital de risco RTP Global.
“Seria realmente um momento crucial se pudéssemos estabelecer a Europa como um lugar atraente para sair e trazer liquidez de volta ao ecossistema”, disse Dussart.
